A noite de 26 de maio foi bastante razoável para observações
astronómicas. Pelo menos até perto da 24:00 horas, quando de oeste se adensaram
nuvens que viriam a cobrir praticamente todo o céu. Neste lapso de tempo
efetuámos múltiplas imagens do cometa C/2012 K1 Panstarrs que circula na Ursa
Maior com um brilho muito mais intenso desde a última vez que o vimos. Deverá
no momento ter uma magnitude visual em torno dos 8.
Aqui ficam duas imagens do cometa que surge com uma cauda já
bastante desenvolta e com uma cabeleira esverdeada de cianogénio.
Por falar em Panstarrs veio-nos á mente que a equipa PanSTARRS-1 descobriu com
a confirmação posterior do Katzman Automatic Imaging Telescope ( KAIT ) do Observatorio
Lick, de uma Supernova na galáxia M106, na constelação dos Cães de Caça e agora
denominada SN2014bc. Como andávamos lá perto, resolvemos dar uma “vista de
olhos”, realizando uma integração de 24 imagens de 40 segundos.
A M106 situa-se a 23 milhões de anos-luz e foi exatamente a
esta distância no tempo que a estrela supergigante explodiu de forma violenta
até chegar ao nosso planeta no dia 20 de maio de 2014, data da sua descoberta.
A galáxia é relativamente brilhante com magnitude 9,possuindo um núcleo também muito
brilhante que dificulta a visualização da Supernova por se encontrar apenas a alguns
segundos de arco deste núcleo com uma magnitude de cerca de 14,5.
Trata-se de uma Supernova do tipo II com espetro de emissão
no H-alfa (1ª linha de emissão do átomo de hidrogénio), tipicamente massiva em
relação ao nosso Sol (pelo menos 8 vezes maior) e que esgotado o seu
combustível (hidrogénio e hélio) em elementos mais pesados como o ferro, chega
a um beco sem saída, apagando-se o seu “motor” interno e decaindo sobre si
própria. Quando as camadas exteriores da estrela atingem o núcleo, produz-se
uma explosão colossal que atinge tudo á sua volta e devolve ao espaço cósmico
todos os elementos de que agora somos feitos…incluindo o ferro que nos circula
no sangue!
A imagem obtida no limite técnico de um telescópio
Schimidt-Cassegrain de 203mm a f/10, não evidência de forma clara a presença da
Supernova que deverá nos próximos tempos aumentar de brilho. A imagem foi
redimensionada (encolhida) apenas a 80% do seu tamanho original.
Entretanto o cometa 209P/LINEAR esteve a 6 de maio no seu perihélio mas
a 29 deste mês passará apenas a 0,0554 Unidades Astronómicas (UA) do nosso
planeta (8,290,000 km) atingindo magnitude de 11 e tornando-se no 9º cometa a
aproximar-se tando da Terra.
Esperava-se também que o nosso planeta fosse afetado na
manhã de 24 de maio pela sua passagem pelas poeiras deixadas pela cauda deste
cometa, criando uma tempestade de meteoritos, o que não se veio a verificar
(teria sido um belíssimo espetáculo).
A imagem aqui presente revela-o com uma magnitude muito
fraca da ordem dos 15 valores mostrando apenas o seu núcleo muito brilhante.
Uma outra galáxia do céu profundo e com magnitude de 15.4 também é visível no
mesmo quadrante. Acrescentámos uma mapa da mesma região do céu produzido pelo
simulador SkyMap pro.
Na constelação da Virgem existe a bonita galáxia espiral
barrada denominada M104 (M de Messier, o seu catalogador mas não descobridor) e
situada a cerca de 28 milhões de anos-luz. É também conhecida pela Galáxia do
Sombrero devido a parecer-se com um chapéu mexicano.
Possui, como a imagem mostra, um núcleo muito brilhante onde
reside um Buraco Negro Supermassivo. Em seu redor gira um disco imenso de
poeira e matéria escura que não deixa passar a luz.