Em 2018 a aquisição de uma
montagem equatorial alemã iOptron CEM60 dotada de um Hub USB com fornecimento
de energia 12volts fez-me pensar em automatizar a sua operação bem como todos
os dispositivos conectados à mesma, nomeadamente as camaras CMOS/CCD de
aquisição de imagens e de guiagem, assim como o sistema de focagem e um
simulador do céu/planetário tipo SkySafari ou o Kstars.
A
montagem e o tripé (antes e depois)
Surgiram na altura duas ofertas
no mercado, com características de grande portabilidade e de crescimento
modular e ainda de baixo custo. Uma de origem koweitiana (designada por StellarMate IoT), outra de iniciativa
francesa (AstroPiBox)
tinham por base a placa Rasberry Pi 3, que entretanto ganhava popularidade e se
expandia em aplicações de toda a ordem, chegando a Estação Espacial Internacional a estar dotada
de dois RB Pi para software concebido pelas escolas.
A nossa opção centrou-se no
IoT (Internet of Things) StellarMate dado
apresentar-se com integração de meios e software (firmware) nomeadamente o
conjunto Kstars/Ekos/INDI sob
qualquer plataforma Windows/Linux/OSX/Android.
Kstars é um
simulador do céu, tipo planetário, com origem na iniciativa KDE-edu
enquanto o Ekos constitui um
ambiente de controlo integrado que permite a gestão de um conjunto de operações
desde a aquisição de imagens e de guiagem até ao controlo de qualquer
dispositivo de utilização astronómica (camaras cmos/ccd, rodas de filtros,
sistemas de focagem, montagens, desembaciadores, Flip-Flat, espetrógrafos,
óticas adaptativas, estações meteo, GPS, observatórios, astrometria de
precisão, alinhamento polar, operação robótica à distância, etc).
INDI
constitui a coluna vertebral de todo o sistema porque é um servidor que
assegura a comunicação kstars/Ekos com os “drives” de todos os periféricos em
simultâneo.
O RB Pi3 da StellarMate
inclui já um micro-cartão SD de 16GB de classe 10 com todo o software.
Acionámo-lo a partir de um Tablet Android ASUS de 10 polegadas e configurámos o
StellarMate e a iOptron CEM60 com toda a cablagem USB, redutores de voltagem e
amperagem e ainda adaptadores porta-série RJ4/DB9/USB necessários para a sua
operação eficaz.
Quisemos dotar a montagem iOptron
CEM60, possuidora
de um sistema inovador de balanceamento denominado “Center
Balanced Equatorial Mount”, com a possibilidade de alternar com a
instalação de diversas óticas como um Celestron 203mm ou uma Takahashi 102FS ou
ainda um refrator 66/400. Para tal tivemos que aplicar na montagem um suporte
que acondicionasse o StellarMate bem como outro equipamento que descreveremos
mais adiante.
Sistema
mecânico de suporte ao Rasberry Pi3 e redutores de voltagem
Esquema
geral definitivo do fluxo de dados e dos circuitos elétricos (com o C8 como ótica)
Como equipamento de aquisição de imagens tínhamos a velha Canon
350D desfiltrada, com sensor CMOS de resolução 3464 x 2309 píxeis e 6,41
microns de pixel pitch, e, à qual foi necessário adaptar um cabo a ligar a
bateria de lítio a um redutor de 12 volts fornecidos pelo painel DEC da
montagem iOptron convertendo-os para 7,6 volts e 2 amperes através de duas
fichas macho/fêmea de 5,5/2,1. Usando solda e ferro de soldar e depois de
identificadas a polaridade dos fios foi fácil conceber esta ligação. Tivemos a
preocupação de arranjarmos um redutor de voltagem que se situasse entre os 7 e
8 volts e fornecesse os 2 amperes para não “fritar” a bateria da Canon.
A Astrolink
4 Mini possuía um redutor deste género devidamente protegido e
destinado a camaras DSLR.
A Canon
350D agregada a um OAG juntamente com a ZWO ASI224mc como camara de guiagem
Da Canon 350D fizemos uma ligação ao DSUSB da Shoestring com a Canon em Bulb e M Mode (cabo coaxial com jacks machos respetivamente de 3,5mm/2.5mm tipo E3), ligando depois diretamente o gadget DSUSB através do seu próprio cabo USB 2.0 ao painel DEC da iOptron.
Para tranferência de imagens ainda tivemos que ligar a micro USB da Canon a outra porta USB do Painel DEC da iOptron (ver esquema).
Na plataforma INDI introduzimos a definição DSUSB na porta de comunicação.
Experimentámos o QuickRemote desenhado por Christian Buil sem sucesso, enquanto o interface usb-eos para exposições longas (acima de 30 segundos) comercializado pela PierreAstro funcionava perfeitamente com a adição de mais um cabo USB entre a Canon e o DEC da iOptron para transmissão das imagens.
Para tranferência de imagens ainda tivemos que ligar a micro USB da Canon a outra porta USB do Painel DEC da iOptron (ver esquema).
Na plataforma INDI introduzimos a definição DSUSB na porta de comunicação.
Esquema de suporte da DSUSB à Canon 350D
Experimentámos o QuickRemote desenhado por Christian Buil sem sucesso, enquanto o interface usb-eos para exposições longas (acima de 30 segundos) comercializado pela PierreAstro funcionava perfeitamente com a adição de mais um cabo USB entre a Canon e o DEC da iOptron para transmissão das imagens.
No painel polar da iOptron CEM60 fazíamos sair um cabo USB B/ USB A ligando
ao StellarMate fazendo assim a comunicação de dados entre os dois. Ainda ao painel
polar fornecíamos energia 12 volts 6 amperes com um transformador.
A camara de guiagem ZWO ASI224mc montada num OAG
(Off-Axis-Guider) ligava diretamente a sua porta ST4 à porta “Guide” na própria
montagem, enquanto o cabo USB B da ASI ligava a uma porta USB do painel DEC da
iOptron CEM60.
No StellarMate ligavam diretamente os cabos USB A do motor de focagem,
USB_Focus_V3, e da própria montagem iOptron com cabos adaptadores RS232/RJ4/DB9/USB
A, dado que tanto a montagem como o focador tinham fornecimento de energia
independentes não sobrecarregando o StellarMate. Ao StellarMate era fornecida
energia 5V 2,5 amperes a partir dos 12 volts do painel DEC da iOptron através
de um redutor de voltagem e com cabo micro-USB.
Aspeto
das ligações ao StellarMate e ligação RJ4/DB9/USB da montagem iOptron
Aspeto do painel DEC da
iOptron com saídas para a Canon, ZWO, voltagens para Canon e StellarMate
Ao sistema de focagem USB_Focus_V3 adaptámos um conjunto de
placas metálicas adquiridas na AKI e que, com alguns parafusos e anilhas de
aperto, dispúnhamo-lo de forma apropriada a permitir ao motor poder fazer a
focagem sem stress mecânico.
Sistema
de focagem instalado permanentemente no DEC da ioptron permitindo alternar com diferentes
óticas.
Em termos de potência elétrica
instalada, tivemos o cuidado de ter um conjunto devidamente balanceado de modo
a que tanto o fluxo de dados como as amperagens estivessem distribuídas devidamente
e não causassem obstáculos operacionais:
iOptron
paínel polar – 12V 5Amp / Transformador – 12V 6Amp
USB_Focus_V3
– 8V 1,5Amp com o seu transformador próprio
StellarMate
– 5V 2,5Amp / Redutor Voltagem – 5V 3Amp
Canon
350D – 7 a 8V 2Amp / Astrolink 4 Mini – 7,6V 3 a 4Amp
ZWO
ASI224mc – 5V 1,5Amp
Reguladores
de voltagem para a Canon350D e para o StellarMate
Tranformadores
para o painel polar da iOptron e montagem iOptron CEM60 e ainda para o sistema
de focagem USB_Focus_V3
Resolução de problemas
adicionais de facilitação operacional do sistema:
Adaptação de uma pesada
“dolly” de modo a encurtá-la para poder andar nos corredores de acesso ao
exterior e balanceamento do contra-peso dado que com a instalação das camaras,
do sistema de focagem e de um TelRad o eixo AR ficava ligeiramente
desequilibrado a oeste. Inventámos um contra-peso adicional instalado no
próprio contrapeso da montagem iOptron aproveitando uma rosca existente.
Criámos também um dispositivo
para produção de Flats convertendo um monitor de computador e ainda instalámos
uma camara robótica para monitorização da operação da montagem bem como um
monitor de voltagem.
Adaptação
da “dolly”
Contra-peso
adicional
Dispositivo
para Flats
Camara
robótica WiFi e imagem produzida pela mesma
Monitor
de voltagem do StellarMate
Kstars/Ekos/INDI
– a coluna vertebral
INDI Web Manager mostrando a
atribuição definitiva de portas-série de comunicação RS232 para a montagem
iOptron CEM60 e para o USB_Focus_V3 (este ultimo foi retirado depois porque não era preciso)
Alguns parâmetros de controlo Ekos da
montagem
Autoguiagem com o Ekos com alinhamento
polar e correção apenas a duas estrelas
A aquisição de imagens com a Canon
350D (Nebulosa do Haltere)
SkySafari controlando a montagem e
mostrando o FOV do sensor cmos
As
configurações óticas C8 f/6.3 e doTakahashi 102FS f/8
As resoluções obtidas em segundos
de arco por pixel para as duas óticas com OAG.
Os sensores CMOS da Canon 350D e
da ZWO ASI224mc permitem obter valores rácio idênticos de 1:0,59
Os dois sistemas em funcionamento na
mesma montagem equatorial alemã
Em conclusão:
A utilização integrada de um
simulador do céu (Kstars) a partir do qual se tem acesso ao controlo
automatizado de todos os dispositivos numa única página como o faz o Ekos,
utilizando a “INDI Library” através do ubuntu 15.10, constitui um bem precioso
e inestimável que se reflete na operacionalidade simples e amplamente portátil do
conjunto com um Tablet/Smartphone via rede WiFi ou pela criação de um Hotspot
pelo próprio Rasberry Pi 3 (neste caso comercialmente designado StellarMate). O
seu valor acresce ao estar dotado também com um cartão micro SD com 16GB que
permite guardar as imagens adquiridas para posterior processamento ou já com o
pré-processamento feito ou permitindo a utilização de outros simuladores do céu
como o SkySafari ou o Stellarium (referidos
como dispositivos Auxiliares pelo Ekos).
Controlo via WiFi da rede local todo o equipamento com um portátil Lenovo em ambiente Windows 10 depois de estabelecida ligação com o Stellar Mate alojado num Tablet android em ambiente linux/ubuntu.
Controlo via WiFi da rede local todo o equipamento com um portátil Lenovo em ambiente Windows 10 depois de estabelecida ligação com o Stellar Mate alojado num Tablet android em ambiente linux/ubuntu.
Indi
Library possui um Forum de apoio aos utentes e atualizações
frequentes abarcando cada vez mais dispositivos a controlar. Jasem Mutlaq é o
seu mentor e obreiro principal.
Outras
expansões possíveis
A instalação de um outro IoT,
denominado AstroLink 4.0 Mini permite ainda adicionar outros dispositivos como
cintas desembaciadoras ou mesmo abdicar do transformador do focador
USB_Focus_V3 abastecendo-o dos 8 volts necessários ao seu funcionamento através
de uma saída de voltagem regulável.
O software do AstroLink 4.0
Mini permite parametrizar e gerir as saídas de voltagem tornando-as permanentes
bem como ainda controlar motores de passo.
Como utilizador INDI
(@fonsecaporto) quero deixar aqui um agradecimento caloroso ao sempre
disponível Jasem Mutlaq, gestor da INDI Library, lançador do IoT StellarMate e
astrónomo amador conhecedor das dificuldades práticas com as quais se defrontam
diariamente todos os astrónomos amadores. Devo-lhe o seu esclarecimento
pertinente a situações mais obscuras de algumas configurações. Também a ele se
deve o seu empenho na atualização permanente e constante de todo o firmware
Imagem
do twitter do Jasem Mutlaq com fotos do sistema
Nebulosa
do anel: integração 11x300s, C8 f/6,3, Canon 350D 1600iso
Messier 27 a nebulosa do Haltere. Exposição de 30 minutos com guiagem feita com ASI224mc e ZWO off-axis-guide. Imagens adquiridas por Canon 350D com montagem equatorial iOptron CEM60 e Plataforma Ekos/INDI. Refrator Takahashi 102fs a f/8. Controlo WiFi com Skysafari.
Condições meteo razoaveis com muita poluição luminosa de uma arraial do Espírito Santo local
Condições meteo razoaveis com muita poluição luminosa de uma arraial do Espírito Santo local
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