quinta-feira, julho 31, 2008

Memórias 5 – Sistema Solar catastrófico

Em Agosto de 1993 havia adquirido no Canadá, numa loja da Eftonscience perto de Toronto, um reflector de 8” a f/6 com uma montagem dobsoniana. Era para o tempo uma novidade tal sistema operativo para telescópios.
Comprar foi fácil comparado com a odisseia para o trazer até aos Açores. Para poder passá-lo na alfândega tive que o desmontar completamente e distribuir pelas malas, espelhos primário e secundário, focador helicoidal, Telrad, ópticas e ainda as partes em madeira da montagem dobsoniana. Restava um longo tubo que teria de ser condicionado numa não menos menor caixa de papelão preenchida com esferovite expandida, que a própria Eftonscience fez o favor de providenciar.
Quando cheguei à alfândega do aeroporto de Ponta Delgada, apresentavam-se pela frente dois esmerados funcionários da alfândega que logo, de canivete de ponta e mola em punho, se prestavam a esventrar a dita caixa. Correram-me suores frios ao pensar que o tubo poderia ser atingido, coisa que por sorte não aconteceu. Caricata foi porém a minha justificação para passar com um tubo daqueles, feito em cartão prensado: o meu filhote (quem não se condoiria com a vontade de uma criança…!), tinha-me tirado o juízo para trazer um tubo daqueles para poder-lhe construir um telescópio, e dado que um tubo de papelão com as medidas certas, não podia ser feito nos Açores, e dado que o seu valor era irrisório, pensava que não iria constituir problema na alfandega… e passou!!




Foi com este telescópio que vi o resultado do impacto do cometa P/Shoemaker-Levy 9 em Júpiter assistido pelo meu filho João Pedro, na altura com apenas a idade de 10 anos.
É da sua autoria o “sketch” aqui presente, feito em 20 de Julho de 1994 pelas 22:30 horas locais no quintal da nossa casa sita ao Bairro Económico nº 55 em Ponta Delgada.



Como na altura ainda não fazia astrofotografia, só este desenho comprova esta história.
Não é por ser meu filho, mas com toda a honestidade: dez anos e fazer um “sketch” destes…é obra !! Reparem no pormenor da Grande Mancha Vermelha e nas bandas atmosféricas e comparem este “sketch” com a fotografia do Telescópio Hubble. Mais importante ainda (sou um pai vaidoso!) reparem na assinatura e na letra tão bem feitinha. Já não se faz disto !



O tubo na sua montagem dobsoniana, logo viria a sua performance melhorada no ano seguinte com a execução de uma plataforma equatorial devidamente motorizada pela TLSystem da Califórnia. Esta plataforma feita em dexion metalizado concebido para montar estantes, viria a ter destaque na página web da TLSystem com uma fotografia. Permitia-me seguir o movimento do céu com bastante acuidade para observação visual com ocular de 5mm.
A observação dos efeitos do impacto do cometa P/Shoemaker-Levy 9 foi feita com uma ocular de 25mm, destacando-se perfeitamente 3 grandes “crateras” na atmosfera do hemisfério sul do planeta Júpiter, nomeadamente os impactos A, B e C, que de 16 a 22 de Julho de 1994 foi atingido repetidamente pelos 21 fragmentos do cometa com mais de 2 quilómetros de diâmetro.
Foi a primeira vez que se observaram colisões entre dois corpos do sistema solar com efeitos tão devastadores.


Imagem do Hubble na banda IV

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

Dear Tony

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